A acessibilidade digital e o e-commerce

Se eu falasse para você que existe um nicho de mercado com mais de 45 milhões de pessoas só no Brasil, que uma grande parte dessas pessoas tem renda alta em comparação com a população geral e que não existe praticamente nenhuma empresa atendendo a essas pessoas, o que você diria? Provavelmente, uma de duas coisas: ou você iria assumir que eu estou falando alguma bobagem, que eu estou errado e que um nicho como esse não existe; ou você iria me perguntar qual é esse nicho, e como você pode fazer para entrar nele. Talvez, até as duas coisas ao mesmo tempo.

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Este nicho é formado pelas pessoas portadoras de deficiência, ou PPDs. Representam quase 25% da população brasileira, mas são quase totalmente ignoradas pelo e-commerce. Em uma pesquisa recente realizada pela BigDataCorp em conjunto com o Movimento Web Para Todos, verificou-se que menos de 1% dos sites do Brasil, e apenas 1,46% dos sites de e-commerce do país, são plenamente acessíveis. A esmagadora maioria das lojas no Brasil oferece uma experiência de compra terrível para essas pessoas, em alguns casos até mesmo impossibilitando a realização de compras.

Teclado de computador com símbolos de acessibilidade
Menos de 1% dos sites do Brasil, e apenas 1,46% dos sites de e-commerce do país, são plenamente acessíveis.

Estamos na 3ª edição desse estudo, que ocorre anualmente, e desde o começo percebemos que um dos maiores problemas com a questão da acessibilidade é o esquecimento. Ou seja, desenvolvedores, designers, profissionais de UX e todos os outros envolvidos no processo de construção de um e-commerce geralmente esquecem da existência dos portadores de deficiência durante a criação. Dessa forma, nem as medidas mais básicas e simples são tomadas para endereçar os problemas. Imagens são colocadas sem qualquer descrição, ou com descrições que não correspondem ao conteúdo. Campos editáveis e botões não são rotulados nem ordenados, impedindo a navegação por qualquer mecanismo que não seja um mouse. Links para outras páginas são codificados de maneira que navegadores e ferramentas de acessibilidade não conseguem processar. E a lista segue.

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O resultado final é uma população que se vê forçada a comprar em um determinado site não porque é o melhor ou porque tem os melhores preços, mas sim porque é o único que funciona. Para essas pessoas, a internet, ao invés de aumentar as opções e a possibilidade de escolha, só trouxe frustração. Ao invés de poder comparar preços com um toque de botão e escolher a melhor opção, elas se veem obrigadas a usar um ou outro site para comprar — muitas vezes sabendo que estão pagando mais caro pelos produtos e serviços.

A boa notícia é que o investimento em acessibilidade não é custoso, e seus benefícios vão muito além da abertura da sua loja para esse gigantesco mercado reprimido. Quando as questões que impactam a acessibilidade do site são resolvidas, a usabilidade do site como um todo é impactada de forma positiva para todos os usuários. Vamos pegar, por exemplo, a questão dos formulários. Se algumas partes de um formulário (campos editáveis e botões) não estão estruturados corretamente — não têm uma descrição, uma ordenação declarada, e assim por diante — ferramentas de acessibilidade, como leitores de tela, não conseguem tratar corretamente esse formulário, fazendo com que as PPDs não consigam preencher os campos e finalizar uma compra ou um cadastro.

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Mas não são somente elas. Usuários comuns também podem enfrentar dificuldades: navegando através de um dispositivo móvel, após preencher um campo, não conseguem ir automaticamente para o próximo. Ou seja, são forçados a sair do modo de edição de volta para a tela, e clicar no campo seguinte. Uma correção simples não só aumenta a acessibilidade, mas também melhora a experiência de todos os usuários, multiplicando as conversões e vendas.

Endereçar os problemas de acessibilidade, portanto, é muito mais do que uma questão de “ESG” para as grandes empresas. É uma decisão de negócios que qualquer um pode tomar, e que traz um impacto positivo nos resultados de qualquer e-commerce. Para saber mais sobre como melhorar a acessibilidade da sua loja, acesse o site do Movimento Web Para Todos, que contém ferramentas, dicas e cursos. Aproveite também para ler e compartilhar a pesquisa sobre acessibilidade na web brasileira, para que cada vez mais pessoas estejam conscientes do problema. Queremos ver melhorias significativas no próximo ano!

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Na próxima semana farei mais um review com depoimento e resenha sobre A acessibilidade digital e o e-commerce. Espero ter ajudado a esclarecer o que é, como usar, se funciona e se vale a pena mesmo. Se você tiver alguma dúvida ou quiser adicionar algum comentário deixe abaixo.

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