Privatização dos Correios: exemplos de como outros países privatizaram suas empresas de logística

O e-commerce brasileiro vive um momento crucial e histórico: a privatização dos Correios. De boato antigo (desde os anos 70 ouvimos falar sobre a venda da Empresa de Correios e Telégrafos), o assunto virou realidade latente para varejistas e consumidores.

É que o governo anda ‘mexendo os pauzinhos’, no longo trâmite legislativo que o processo envolve, para viabilizar a venda da estatal. No páreo para adquirir uma das mais importantes empresas públicas do país estão as principais empresas de e-commerce da atualidade: Magalu, Amazon, além das gigantes da logística DHL e FedEx.

Os Correios trilham uma jornada complicada. Entre 2017 e 2018, a qualidade do serviço foi extremamente criticada por varejistas e especialistas do mercado de e-commerce. E entre entre 2013 e 2016, a estatal teve um prejuízo acumulado de cerca de R$ 2,7 bilhões. Junta-se a isso a complexa infraestrutura logística do Brasil, a falta de segurança (roubos e assaltos) e a falta de alternativas ao modal rodoviário que também afetam diretamente a qualidade e velocidade das entregas no país.

Com a venda da estatal para uma empresa privada, a expectativa de todo o mercado (entidades, governo e varejistas de e-commerce) é que a eficiência logística aumente com possíveis investimentos em tecnologia e melhorias de gestão.

Historicamente, as empresas privatizadas tendem a ser mais eficientes, segundo um estudo da USP, FGV e Mackenzie. A pesquisa analisou 102 empresas privatizadas no Brasil entre 1987 e 2000 e concluiu que houve sim melhora no desempenho (eficiência operacional e lucratividade) das companhias.

Em alguns países, porém, o sucesso dos processos de privatização dependem muito da forma como são conduzidos por seus governos, como veremos a seguir.

Como funcionam os Correios em outros países?

EUA

Um dos exemplos clássicos onde os serviços de Correios ainda pertencem ao Estado é nos EUA. No país norte-americano, o presidente Donald Trump também manifestou o desejo de privatizar o United States Postal Service (USPS), mas até agora sem sucesso.

A Estatal que é cerca de 5 vezes maior que os Correios do Brasil, também detém o monopólio de alguns serviços, como o de cartas e, segundo reportagem da Revista Época, registra prejuízos há 13 anos consecutivos. Apesar disso, uma pesquisa feita em 2019 pela Pew Research Center mostrou que o serviço da USPS foi muito bem avaliado por consumidores ficando no topo do ranking das agências federais à frente da NASA e do FBI.

Alemanha

De acordo com reportagem do UOL, o processo de privatização dos Correios alemão (atual Deutsche Post) era tão complexo quanto o dos Correios do Brasil.

Para se ter uma ideia, foi necessário realizar todo o processo em etapas (por meio de abertura de capital e venda escalonada) o que acabou levando mais de uma década.

A quebra do monopólio da empresa sobre o serviço postal também se deu em fases e só foi concluída em 2007, sete anos após o início da abertura de capital. Até julho de 2010, o Deutsche Post também era isento de pagar imposto sobre valor agregado sobre serviços de postagem, benefício encerrado após críticas de concorrentes de outros países e da Comissão Europeia.

Naquela época (pós-reunificação das Alemanhas), havia um debate acalorado sobre a interferência do governo na economia europeia. Por isso, foram criadas regras para o setor postal monitoradas por uma agência reguladora que supervisionava, por exemplo, se a empresa privada estava mantendo a entrega em todos os cantos do país.

Estas monitorias são importantes, pois, no mundo já houve pelo menos 835 casos de “remunicipalização” de estatais, de acordo com o think tank Transnational Institute (TNI), por conta do descumprimento de contratos e até queda na qualidade do serviço ou falta de transparência de preços.

Mas no caso da Deutsche Post, a notícia que se tem é que a ex-estatal está ótima. Após comprar a norte-americana DHL em 2002, o Deutsche Post se tornou a maior empresa logística do mundo com uma receita de 61 bilhões de euros e um lucro operacional total de 3,4 milhões de euros — bem acima da sua meta.

Portugal

Outro país que experimentou a privatização de sua estatal logística foi Portugal. Porém, o final dessa história não é tão feliz assim. A privatização foi feita em 2013 e de lá para cá muitos consumidores reclamam da perda de qualidade do serviço, como, por exemplo, o fechamento de agências no país e o aumento nas tarifas, como vemos nas tabelas seguintes.

Qualidade dos serviços do CTT

Variação da tarifa do CTT

Fonte: Fectrans.

Em 2019 o governo português emitiu um comunicado manifestando sua insatisfação afirmando que, quando o CTT (Correios de Portugal) estava sob administração pública tinham resultados muito mais relevantes — em termos de qualidade do serviço e lucro.

Após cinco anos da privatização da ex-estatal já existe um debate no país para que o processo seja revertido e o CTT volte a ser estatizada.

Fonte: Trustpilot

Outros países

Além da Alemanha e de Portugal, outros países tiveram experiência diferentes em seus processos de privatização:

  • Argentina (Correo Argentino): privatizada no final dos anos 90, a estatal foi entregue à SOCMA (Sociedad Macri), porém se viu envolvida em um escândalo em pleno “corralito” — política adotada para limitar transações bancárias dos cidadãos argentinos para evitar a quebra do sistema financeiro.
  • Holanda (PTT Nederland N.V): começou a privatizar sua estatal logística em 1994 passando a ser controlada pela TNT no ano seguinte. A mudança deu a empresa maior alcance para se desenvolver em um mercado de mudanças rápidas. A privatização foi a plataforma que a PTT Post usou para estabelecer uma forte posição no mercado internacional.
  • Reino Unido (Royal Mail): o processo de venda do Royal Mail por meio de ações aconteceu entre 2013 e 2015. Após a privatização, houve aumento dos lucros nos primeiros resultados anuais, segundo a BBC. Uma das medidas da Royal Mail para se diferenciar da concorrência passa pelo arranque de um serviço de entregas ao domingo, justificada pelo crescente número de encomendas realizadas “online”. Serão cerca de 100 locais a disponibilizar este serviço, nomeadamente aqueles que registam maiores volumes de encomenda.
  • Suécia: Em 2000 o país reestruturou seu sistema postal nos moldes empresariais por meio de um programa que ficou conhecido como Best Method. A ideia era tornar a operação mais organizada e flexível padronizando procedimentos e otimizando o tempo de entrega. Neste processo muitas agências foram substituídas por redes de franquia, de pontos de serviço postal, administrados por mercearias e postos de gasolina.

O que fica de lição é que o sucesso das privatizações depende muito de como o processo é conduzido e também da fiscalização envolvida no cumprimento dos quesitos de qualidade presentes nos contratos. Mas a pergunta é: como a nossa privatização será conduzida? Será que seguiremos os passos da Alemanha ou de Portugal?

O que vem por aí

O desafio é continental. Presente em todos os 5.570 municípios brasileiros, os Correios são atualmente a maior empresa de logística da América Latina.

São mais de 22,5 milhões de objetos entregues por dia (2/3 são encomendas expressas – Sedex), numa operação que emprega mais de 106 mil funcionários e nada mais do que 1 milhão de quilômetros rodados diariamente (o equivalente a 25 voltas ao redor da Terra).

De acordo com uma publicada no último dia 4 de novembro, o projeto de lei que acaba com o monopólio dos Correios no serviço postal e abre caminho para a privatização da estatal já está sendo analisado pelo departamento de assuntos jurídicos da Secretaria Geral da Presidência.

A empresa que herdar esta grande operação terá que ser capaz não apenas de transformar a estatal em uma empresa eficiente e lucrativa, mas também enfrentar os obstáculos que a logística no nosso país impõe.

As mudanças na gestão dos Correios impactarão toda a cadeia do e-commerce. Se a privatização for conduzida de maneira estratégica, há grandes chances de lojas virtuais e marketplaces alcançarem avanços significativos nas métricas de performance da entrega e por consequência, a experiência do consumidor também terá um salto positivo. O mais importante será garantir que todos ganhem com esta nova fase dos Correios.

Para os e-commerces que já estão de olho na otimização de suas operações logísticas vale a pena investir em sistemas automatizados que facilitem a integração de estoques em tempo real entre loja física, e-commerce e marketplaces. Estes sistemas permitem ter uma visibilidade muito melhor dos status de entregas tanto dos Correios quanto de outros operadores e transportadoras.

Os lojistas que assumirem o controle de suas operações logísticas para tomarem decisões de forma mais rápida e assertiva com certeza sairão na frente em 2021.

Leia também: Pix e e-commerce: tudo sobre o novo método de pagamento.

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Na próxima semana farei mais um review com depoimento e resenha sobre Privatização dos Correios: exemplos de como outros países privatizaram suas empresas de logística. Espero ter ajudado a esclarecer o que é, como usar, se funciona e se vale a pena mesmo. Se você tiver alguma dúvida ou quiser adicionar algum comentário deixe abaixo.

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